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R​á​dio Pirata (Remastered 2017)

by Landfill

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1.
O sopro frio de um coração gelado Onde sentes o apertar da manhã tépida Sentes o caminhar aleatório das nuvens perdidas sobre a tua cabeça E sentes-te renascido e morto ao mesmo tempo Adormeces a pele com um café morno e um cigarro Cheiras mal da noite anterior, tabaco, álcool e mijo Pouco te importa, a vida não é tua, apenas o cheiro Acordas e pouco mais Abres a janela para ver como está o tempo É a poesia de um mau momento Quem sou eu Quem és tu O que interessa Quem morreu Serei eu Serás tu O corpo hirto e nu Vestes a roupa apressadamente que te tens de ir Ao final do dia, voltas a vestir o fato de treino Televisão, masturbação, hipnotizar o gato, estender a roupa Afiar a faca que te irá abraçar no teu último suspiro Que preferes a dor ao amor O sofrimento ao esplendor O preto ao colorido E na dança convulsa dos nossos corpos moribundos Agarrar a tua mão e sentir-te, morta e ainda a respirar Deixar-te no chão, tratar-te como excremento É a poesia de um mau momento
2.
A Chuva 04:44
É a chuva que nos bate sobre a cabeça No eterno precipitar de aurora No faminto deslocar de emoções para outro fora de nós Sacudir as chamas vazias do eco que paira no ar Passar a língua pelas mãos, sentir que… enfim… já não demora E no crepitar da chama de uma lareira – dormitar, meia hora Enterrados estão os mortos no nascer do dia Espalhados em campas por esses campos fora Sentir a alegria no abismo da alma Que é fina a fronteira entre o vazio e a calma Torna-se claro passado algum tempo Que somos mais do que aquilo que sabemos E que sabemos nós? É o nervoso que te dá o arrepio No transbordar das emoções mais lúcidas No respirar de manhãs escuras e chuvosas Onde o mar se revolta na praia Onde o céu não se acende no escuro E são esses momentos que deslocam o universo Colocam-te mais perto daquilo que sentes Que o sentimento remói o destino com mãos de menino mimado Pisas o chão sagrado com os pés meio dormentes Que a terra está fria – o corpo não está habituado Segundo novas informações do meu corpo, não sou quem deveria ser Estou no lugar de outro alguém, com as mãos encostadas à parede E no meio da fome e da sede, não há corpo que não transborde de emoção Os pensamentos vão escoando de mão em mão Pelas ruas de cidades tempestuosas Pelos abrigos onde se escondem magotes de gente molhada Cabelo escorrido, olhos brilhantes, pés assentes na terra Do outro lado do mundo eclode nova guerra A de homens que lutam pelo ouro irmão Pela chuva que cai neste chão, nesta casa, nesta terra E todos os tesouros que ela encerra Na dignidade de uma rocha porosa espetada em cima de uma montanha onde não chegam senão os pássaros Rivais eternos num majestoso ritual de acasalamento Fêmea por cima, macho por baixo Que cada um serve para o que for São estes os ferros marcados do amor Torna-se claro passado algum tempo que estamos deslocados de nós próprios À deriva na imensidão de um mar salgado, esqueço-me agora de quem fui De quem era ou queria ser As palavras ocas que costumava soltar ao vento As lágrimas moles e vazias onde flutuam tristezas e alegrias Sacos rotos e diamantes Minúsculos duendes e gigantes Adivinhos de sangue mole e venenoso Adamastores de alcatrão sujo e viscoso Por onde nadamos com a dificuldade natural de quem nasceu para ser forte Para resistir ao vento e ao frio No meio da imensidão sepulcral de um desfeito navio Mas nunca ao abismo incontornável de uma água turva No fim de contas, sentir como nos batem nos pés As minúsculas gotas de chuva
3.
O Deserto 08:17
O deserto queima a testa suada Como quem atravessa para o outro lado da estrada O deserto queima os olhos e a pele Não corras por aqui Corre por outro lado Caminho sobre um mar de escorpiões nas planícies desertas de África Com a pele a estalar, a garganta seca, as mãos hirtas e dolorosas Comi mãos cheias de areia por não aguentar mais a fome Agora sinto-me desfalecer com sede Evapora-se da boca a pouca saliva que me resta E o suor que me cai da testa para a língua é salgado Sinto-me sufocado nesta caminhada sem futuro Tenho na areia um muro impossível de saltar Uma parede de betão armado, com espigões de ferro apontados ao coração Dobro os dedos, estala-me a pele da mão Solto um grito abafado, silencioso Manifesto-me apenas pelo meu andar pesado e vagaroso Andar sem rumo, caminhar aleatório, que será feito de mim Se depois de tantas voltas reparar que já passei por aqui Resignado a morrer em sofrimento, deito-me agora no chão À espera de ser abençoado pela morte rápida do picar de um escorpião.
4.

about

Gravei "Rádio Pirata" em 2008, em pleno início do processo de aprender a gostar de escrever em Português. Como maioria dos putos da Geração X, fui "educado" para ouvir e tocar música em inglês, mas quando em "Panorama de uma Vida Normal" (2006) descobri as potencialidades da escrita na minha língua materna, apressei-me a esventrá-la e a dissecá-la numa espécie de macabra autópsia. "Rádio Pirata" marca o nascimento do meu próprio Frankenstein linguístico, que ainda hoje prolifera por todos os projectos em que estou envolvido. É rude, cru, sem maneiras, mas já em criança mostrava laivos da paixão pela língua portuguesa que mais tarde desenvolveria.

Gravado de forma rudimentar com um microfone manhoso, uma guitarra e uma pequena biblioteca de samples de percussão, "Rádio Pirata" tem todos os defeitos e qualidades de uma maquete: anseio de novidade, de furar tímpanos, de fazer ecoar o meu próprio idioma dentro do universo da Língua Portuguesa, mas com uma produção amadora, da qual nem guardei sequer os ficheiros originais, o que tornou hercúlea a operação de melhorar o som deste disco. Um grande obrigado ao Joel Figueiredo dos SlowDriver Studios que aceitou o desafio de remasterizar estes temas assim, sem grande margem de manobra para o melhorar.

Daniel Catarino
21 de Novembro de 2017

«O activo músico eborense Daniel Catarino (Oceansea, Uaninauei, Long Desert Cowboy, Seven Thousand, entre outros) acaba de nos presentear com uma nova edição. Três anos passados sobre o surpreendente “Panorama de uma vida normal” (Test Tube, 2006), Daniel Catarino está de regresso com o seu projecto Landfill. Está de regresso mas está diferente. Deixada a vertente mais experimental para o projecto Long Desert Cowboy, em “Rádio Pirata” foi consumada uma aproximação ao formato canção e às palavras ditas, em português. Daniel Catarino é a voz, a guitarra, o baixo e a percussão, ou seja, é tudo – sem ignorar a voz de Vasquinho Tornado em “Belzebu Badalo” e o tal do badalo de Nuno Karagunis, no mesmo tema. Uma ideia a germinar de “A Chuva” e “O Deserto” – até mesmo de “Belzebu Badalo”.»
Rui Dinis, A Trompa, 2009

ENGLISH
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It's been a long time since I've released "Rádio Pirata", and I must admit I had no idea of what I was doing at the time! I recorded all of the instruments directly into my computer's soundboard, I didn't keep any of the original files, I lost the original cover photo, so not much could be done with it except bringing the whole mix a bit forward, make it sound a bit clearer and consistent across all the tracks. It's free for everyone interested in digging up the history of how you go from not knowing how to do anything properly in terms of recording an album to doing everything better and radio-playable.
Don't get me wrong, I really like the music here, and the words are still strong. Making records is my passion, and it's an ongoing learning process, so it's quite nice to come back and revisit all the 'yous' you can be throughout life.

Thanks to Joel Figueiredo for taking up the impossible task of making it sound better.

Daniel Catarino
November 22, 2017


www.facebook.com/catarinodaniel

License this music here:
www.jamendo.com/en/list/a51201/radio-pirata

credits

released November 22, 2017

original release: August 31, 2009

Daniel Catarino: vocals, all instruments, recording, production, mixing
Vasco Costa: vocals in "Belzebu Badalo"
Nuno Medina: cowbell in "Belzebu Badalo"

Remastered by Joel Figueiredo at SlowDriver Studios

Original images by pedroled, v4vikey, gellinger

(c) 2009 Daniel Catarino/Landfill

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all rights reserved

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about

Landfill Portugal

Landfill foi um projecto a solo de Daniel Catarino, também responsável pelos projectos Oceansea e Long Desert Cowboy, membro das bandas Uaninauei, Bicho do Mato, Cajado, Ao Lado, O Rijo e Alentexas.

O trabalho recente de Catarino pode ser ouvido aqui: danielcatarino.bandcamp.com

Landfill was a project by Daniel Catarino, who also released music as Oceansea and Long Desert Cowboy.
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